domingo, 17 de agosto de 2008


(The Lovers, René Magritte)
“Quando conhecer sua alma, pintarei seus olhos”. (Amedeo Modigliani)

Chaves Ocultas

Chaves Ocultas

Dei duas voltas na chave,
As janelas e cortinas fechei,
Tirei o telefone do gancho,
Todas as luzes da casa apaguei.

Quis ser cego por um dia,
Para tentar melhor enxergar,
O que trago, de fato, na alma,
Que a angústia não deixa aflorar.

Tateei pra encontrar o caminho,
Por cantos que, há muito, eu não via.
Também era escura minha alma,
Tão pouco dela eu conhecia.

Achei tantas portas fechadas.
Por quê? Eu tentei me lembrar.
Por entre as sombras do passado,
As chaves tentei encontrar.

Achei-as ocultas num canto;
Dezenas, ao todo, eu contei.
Lembrei que abriam as portas,
Dos sonhos que eu nunca ousei!

Colhi cada uma, com pressa,
E abri cada porta, em seguida.
Senti bater forte o meu peito,
E a luz invadir minha vida!

Voltei dessa busca mais moço e mais forte!
Eu, antes perdido, encontrei o meu norte!
Os prantos e medos? Lancei-os ao vento!
Portas e janelas abri a um só tempo!

A luz inundou onde trevas havia!
A vida se abriu e me disse: “Bom Dia!”

(Adilson Luiz Gonçalves)
“O que separa a alma do corpo não é a morte, é a vida”. (Paul Valéry, filósofo, poeta e escritor francês)

Alma

Alma

(Pepeu Gomes e Arnaldo Antunes)

Alma,
deixa eu ver sua alma
A epiderme da alma,
superfície.

Alma,
deixa eu tocar sua alma
Com a superfície da palma,da minha mão,
superfície

Easy,
fique bem easy, fique sem nem razão
Da superfície
livre
Fique sim, livre
Fique bem com razão ou não, aterrise

Alma,
isso do medo se acalma
Isso de sede se aplaca
Todo pesar
não existe

Alma,
como um reflexo na água
Sobre a última camada
Que fica na superfície,
crise

Já acabou, livre
Já passou, o meu temor do seu medo
Sem motivo, riso...de manhã, riso de neném
A água já molhou a superfície

Alma,
daqui do lado de fora
Nenhuma forma de trauma
sobrevive

Abra a sua válvula agora
A sua cápsula alma
Flutua na
superfície lisa, que me alisa, seu suor
O sal que sai do sol, da superfície
Simples, devagar, simples,
bem de leve a alma já pousou, na superfície