terça-feira, 10 de março de 2009

Dialética do Poema

Dialética do Poema

Fazer um poema
não é dizer coisas profundas.
É ver as coisas como as coisas não são.

Fazer um poema não é viajar no espelho.
É ir à procura do rosto do homem
perdido na escuridão.

É descer às raízes do sangue e do mito.
Fazer um poema é estar em conflito
com os dedos da mão.

(Francisco Carvalho)

"Andei léguas de sombra,
dentro em meu pensamento".
(Fernando Pessoa)

Fado (ou sentimentos, decepções...)


"Num tempo em que as amizades quase nada representam e o amor é uma espécie de coisa descartável, nada como passar a manhã de domingo lendo alguns poemas ouvindo fados cantados por Amália Rodrigues.


Fico bem. Vejo-me melhor. Lembro-me de uma terra onde as coisas, pelo menos para mim, são bem diferentes.


Vive-se recebendo golpes traiçoeiros de todas as maneiras, de todos os lados.


É tudo muito triste, mesmo sendo eu uma figura que procura se isolar dessa violência de todos os dias. Não é bem me isolar. Na verdade, tento fugir.


Não dá mais para suportar tanta brutalidade. Brutalidade que, tantas vezes, chega de pessoas que você nunca poderia imaginar. Nunca. Mas chega o dia que ela chega. Eu repito: chega o dia que ela chega.


Por isso iniciei este texto dizendo de um tempo em que as amizades quase nada representam e o amor é uma coisa descartável. Adianto: não se trata, não, como pode parecer, de problema sentimental. Não. É coisa de querer-se bem às pessoas, doar-se a essas pessoas, estar sempre de mãos estendidas, como é meu costume, embora eu não seja santo.


É uma questão mesmo de sentimento. De sentir.

Diante disso, não vou me suicidar por pessoas para quem o que vale mesmo é a vaidade em todas as coisas. Pessoas que são apenas pessoas, não são gente. Isso na área de literatura é lugar comum. Gente que não presta tem em todo lugar. Mas na área da literatura passou do limite civilizado. Ou então estamos todos loucos.


Mas muitos não aprendem e seguem sem saber das armadilhas de todos os dias. Como eu.

São afetos que não existem. Carinhos mentirosos. Tudo é brutalidade. Viva a brutalidade!

E nesses momentos brutais, de profunda decepção, ouço fado. Ouço fado de Lisboa e ouço fado de Coimbra. As chamadas guitarradas de Coimbra me fazem bem. Também me faz bem a guitarra de Lisboa. A poesia de Portugal. A poesia de Cecília Meireles. A poesia de Rosalía de Castro. A poesia de Florbela Espanca. A poesia de Jorge de Lima. A poesia de Murilo Mendes. Mas o que me faz bem mesmo são os fados. Nesta manhã de domingo, ouço fados. Ouço fados na voz de Amália.

É uma tentativa de sobreviver.

Pode parecer que minha angústia se deva, por exemplo, a um amor desfeito, a uma mulher que me deixou, a uma paixão que se desfez. Não. Não. Estou falando somente de amizade, que é, claro, uma espécie de amor que une todas as pessoas, ou que devia unir. Mas eu sou um tolo. Não me levem muito a sério".

(Poeta Álvaro Alves de Faria)