terça-feira, 12 de fevereiro de 2008

“Nós não vemos o que vemos. Nós vemos o que somos. Só vêem as belezas do mundo aqueles que têm belezas dentro de si”. (Bernardo Soares)

O Homem Romântico


O Homem Romântico

“O homem romântico, em geral, não é compreendido pelas demais pessoas do mundo. Parece ingênuo, mesmo tolo. (...)

Só que o homem romântico é um tipo superior de homem. Por favor, entendam que não me refiro a um fenômeno literário apenas. Falo do romântico atemporal, o próprio arquétipo do cavaleiro valente, do homem honrado e ético.
(...)
O homem romântico é um aventureiro, mas não um irresponsável. O amor é sua prioridade máxima na vida; não o amor apenas por uma mulher, mas pelas causas artísticas, sociais, políticas; na verdade, ele está empenhado em concretizar uma utopia qualquer.

O homem romântico, ao contrário dos práticos, não é um comerciante, é um comunitário. Preocupa-se, responsabiliza-se, não compete; alegra-se em praticar a solidariedade, não para receber aplausos. Praticar o bem é uma guerra particular dele, tanto como sua alegria. O reconhecimento que espera são as amizades que conquista, o sorriso de uma criança ou a paz profunda, a sensação do dever cumprido. É claro que sofre decepções, tristezas profundas, mas ninguém se lhes iguala em entusiasmo.

Por apoiar-se em valores reais, a força do romântico é incomensurável. Por ser sincero, faz amigos com facilidade; por ser amoroso, conquista o amor do povo; por ser confiável, conquista a proteção dos poderosos. Como o amor e a generosidade são os seus lemas, pois ignora preconceitos, o homem romântico vive em qualquer lugar como se fosse sua casa.

Fernando Pessoa dizia que é preciso ser prático para ser gerente de uma fábrica de tachinhas, mas é preciso ser romântico para criar um mundo.

Entendam que quando falo "prático", não me refiro ao estereótipo fácil. Eu sei que pensar dá trabalho, mas é preciso. É possível realizar-se utopias. O romântico é um sonhador, não um deslumbrado.

Romântico é aquele que aceita suas visões, seus sentimentos. É aquele que age por paixão, não a paixão que escraviza, mas a que liberta. Não teme a loucura, pois sabe que quem quiser fazer-se de sábio neste mundo, tem que fazer-se de louco.

O homem romântico sofre de uma curiosidade insaciável; quer saber de tudo, lê de tudo, acumula sabedoria das mais variadas fontes. (...)

E a mulher, que papel desempenha para o homem romântico? O fim último desta vida terrena, sua conquista máxima. O refúgio da sua solidão, o seu consolo no desencanto. Alguém que ele ama e protege como a sua Igreja; o amor é a religião do romântico. Cavalheiro, homem algum pode tratar melhor uma mulher; fraterno, ninguém pode ser melhor companhia. O próprio mundo feminino justifica-se pelo homem romântico, que o honra e protege.

E agora, enfim, diante da realidade, que é a de que a humanidade não é exemplo de bondade para fera alguma, que o número de egoístas e insensíveis é infinitamente maior, como pode subsistir o homem romântico? Qual o segredo da sua sobrevivência? Simples: a grandeza de sua própria alma.

O homem romântico vive no seu próprio mundo. Apenas passa por este, deixando algumas flores do seu ideal maior, que seria a realização plena de sua humanidade. Mas ele é muito roubado pelo caminho, em termos de criação. Sofre uma solidão insuspeitada, pois tem olhos de águia. Vê e pressente coisas que passam despercebidas ao outros. De modo que ele morre, quando não completamente desiludido, satisfeito, por saber que a morte pode ser uma nova utopia, uma nova aventura, ainda que a do descanso eterno”. (...)

(Marcelino Rodriguez, escritor hispano-brasileiro)